quarta-feira, 25 de setembro de 2013

CARRO DE BOI CANTANDO DENTRO DE MIM


Com sentimento de longa saudade, abordo este tema que me traz lembranças e emoções, creio também, para inúmeros amigos e amigas. Quem nasceu na cidade grande, sobretudo a ela foi incorporado em seus hábitos e não teve raízes no sertão, não pode medir a importância do carro de boi no desbravamento, no progresso, no transporte, muito mais, na família. Nos romances que se desdobraram em casamentos, na culinária, nos costumes e nos festejos.
O carro de boi chegou ao Brasil em 1549, com carpinteiros e carreiros práticos providenciados pelo governador Tomé de Souza, já se ouvindo em Salvador, naquela época, o “cantar” de suas rodas nas ruas da capital baiana. Manteve a indústria açucareira, da roça ao engenho, do engenho às cidades. O carro de boi foi o veículo que fez a maior parte do transporte terrestre dos séculos XVI e XVII, levando material de construção para o interior e voltando para o litoral carregado com pau Brasil e produtos agrícolas produzidos na lavoura do interior.
No Brasil Colonial, levava famílias de um povoado para outro e era comum ser  transformado em “carro fúnebre”. Sempre foi indispensável em todas as regiões do país, inclusive na Guerra do Paraguai, transportando munições.
Mas depois vieram os burros, tropas e o carro de boi ficou em segundo plano. Na sequência, os cavalos para puxar carroças e carruagens e ai o carro de boi foi expulso das cidades, ficando o seu uso permitido somente no meio rural. A decadência foi acelerada com os veículos motorizados. Mas ainda em regiões longínquas, o carro de boi existe com muita utilidade.
O seu valor cultural não pode ser desprezado e os seus últimos usuários e colecionadores desse meio de transporte rústico e simbólico, prestam suas homenagens em diversos festivais e encontros pelo país.
Livros, crônicas, poesias e músicas narram a riqueza da tradição, como registra o livro do padre Luiz Alberto Vieira Rodrigues, Editora da PUC – Goiás, “Carreiros – Fé, e devoção ao Divino Pai Eterno e práticas educativas junto aos carreiros de Mossâmedes”.
Na introdução da obra o autor afirma: “As ações educativas praticadas entre os Carreiros de Mossâmedes perpetuam a tradição de romaria em devoção ao Divino Pai Eterno. Entre essas ações, estão os laços de amizades, os parentescos, as práticas diárias, educativas e religiosas como experiências de vida transmitidas na inter-relação sociocultural que, por sua duração temporal, se transformaram em tradição educativa, religiosa e cultural entre os carreiros. Assim, romaria, memória e tradição são categorias de análise empregadas para a compreensão das relações entre os sujeitos que compõem o grupo de carreiros do município de Mossâmedes e de sua romaria ao Divino Pai Eterno, em Trindade – Goiás”.
Convido-o a levar o seu filho, seu neto, para assistir, ouvir e sentir o magnífico e emocionante desfile dos carreiros que se realiza na festa de Trindade, este ano, de 28 de junho a 7 de julho, com o desfile dos carros de boi acontecendo dia 4 de julho, quinta feira de 09 às 15 horas.
Do site colaborativo voltado para a cultura brasileira “Overmundo”, transcrevo a narrativa triste e alegre do carreiro Francelino Antunes de Carvalho, que sorridente disse em 2008: “Quando o carro ia entrando na cidade e as moças ouvia o som do baixão, corriam pra porta pra vê quem tava chegando, aí a gente sorria e acenava com o chapéu”.
Com o semblante triste seu Francelino diz sobre a despedida de um boi: Quando o boi já não dava mais para o trabalho a gente levava ele para o curral do matador. Era muito triste e eu nem gostava de vê. O boi sabia que ia morrê e do seu zói curria água”. Seu Francelino se cala e de cabeça baixa diz: Sabe, a gente fica sentido, pois esses boi ajudou tanto...
Outra história que seu Francelino contou muito animado é sobre o namoro com dona Arminda Martins: “Quando o carro de boi passava na rua ela ficava na porta sorrindo e acenando pra mim toda bonita e enfeitada! Como ela escutava a cantiga do carro de longe, dava tempo de se arrumar e até passar um pó de arroz!” A história de vida de seu Francelino e família se fez em torno de um carro de boi.
Concluo este artigo como se estivesse vendo a caminhada indolente, vagarosa e o cantar triste de um carro de boi, com poesia de Zé Mulato e Cassiano, dupla sertaneja amiga do meu especial irmão maçom, José Walter Carvalho, que assim canta ao som da viola:
Tarde da vida, quando se amontoa os anos debruçado em desenganos da minha desilusão, fico espiando da janela do presente, retalhos de antigamente que me dói como ferrão. Vai boi Penacho, puxa o carro e vai embora, já venceu a minha hora, terminou minha missão, leva essa carga de tristeza que me invade, se couber leva a saudade que me aperta o coração. Vai boi Penacho, puxa o carro boi Carreiro, companheiro de viagem nas quebradas do sertão, leva essa carga, rasga o barro do caminho, se couber leva um pouquinho da mágoa desse peão”.
A dupla Tonico e Tinoco que tanto cantou o sertão, não podia deixar de cantar o carro de boi: “Meu velho carro de boi, pouco a pouco apodrecendo, Na chuva, sol e sereno, Sozinho aqui desprezado, Hoje ninguém mais se alembra, Que ocê abria picada, Abrindo novas estrada, Formando vila e povoado, Meu velho carro de boi, Trabaiaste tantos anos, O progresso comandando, No transporte do sertão, Hoje é um traste velho, Apodreceu no relento, No museu do esquecimento, Na consciência do patrão”.
Escrevi com o coração sobre o saudoso e simples meio de transporte que participou desde os primeiros anos do Brasil, passando pela colônia e império fazendo de sua caminhada uma linda e pura poesia encravada em todos nós que temos alma sertaneja.

“Fechando os olhos parece que vejo estrada sem fim. É o velho carro de boi, cantando dentro de mim”.

                         Artigo do Grão-Mestre Barbosa Nunes
                                     11 de maio de 2013

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

AS DUAS PULGAS



Duas pulgas respectivamente 1ª e 2ª Vigilantes estavam conversando e então uma comentou com a outra:

- Sabe qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos saltar. Daí que nossa chance de sobrevivência, quando somos percebidas pelo cachorro, é zero. É por isso que existem muito mais moscas do que pulgas.

Elas então decidiram contratar uma mosca para treinar todas as pulgas a voar e entraram num programa de treinamento de vôo e saíram voando.

Passado algum tempo, a primeira pulga falou para a outra:

- Quer saber? Voar não é o suficiente, porque ficamos grudadas ao corpo do cachorro e nosso tempo de reação é bem menor do que a velocidade da coçada dele. Temos de aprender a fazer como as abelhas, que sugam o néctar e levantam vôo rapidamente.

Elas então contrataram uma abelha para lhes ensinar a técnica do chega-suga-voa.
Funcionou, mas não resolveu. A primeira pulga explicou por quê:

- Nossa bolsa para armazenar sangue é pequena, por isso temos de ficar muito tempo sugando. Escapar, a gente até escapa, mas não estamos nos alimentando direito. Temos de aprender como os pernilongos fazem para se alimentar com aquela rapidez.

E então um pernilongo lhes prestou treinamento para incrementar o tamanho do abdômen. Resolvido, mas por poucos minutos. Como tinham ficado maiores, a aproximação delas era facilmente percebida pelo cachorro, e elas eram espantadas antes mesmo de pousar.

Foi aí que encontraram uma saltitante pulguinha, que lhes perguntou:

- Ué, vocês estão enormes! Fizeram plásticas?
- Não, entramos num longo programa de treinamento. Agora somos pulgas adaptadas aos desafios do século XXI. Voamos, picamos e podemos armazenar mais alimento.
- E por que é que estão com cara de famintas?
- Isso é temporário. Já estamos fazendo treinamento com um morcego, que vai nos ensinar a técnica do radar de modo a perceber, com antecedência, a vinda da pata do cachorro. E você?
- Ah, eu vou bem, obrigada. Forte e sadia.

Mas as pulgonas não quiseram dar a pata a torcer, e perguntaram à pulguinha:

- Mas você não está preocupada com o futuro? Não pensou em um programa de treinamento, em uma reengenharia?
- Quem disse que não? Contratei uma lesma como consultora.
- Mas o que as lesmas têm a ver com pulgas? Quiseram saber as pulgonas.
- Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês duas. Mas, em vez de dizer para a lesma o que eu queria, deixei que ela avaliasse a situação e me sugerisse a melhor solução. E ela passou três dias ali, quietinha, só observando o cachorro e então ela me disse:
“Não mude nada. Apenas sente na nuca do cachorro. É o único lugar que a pata dele não alcança”.
Moral da história:

Meu Irmão, você não deve focar no problema, e sim na solução. Para ser mais eficiente é necessário estudar, analisar e não falar.

Muitas vezes, a GRANDE MUDANÇA NOS SEUS IRMÃOS E NA SUA LOJA  é uma simples questão de reposicionamento, ação, execução e praticidade.

Não jogue a culpa nos seus irmãos, na sua Loja, na Potência.

Não queira complicar, não seja covarde, seja prático e objetivo, olhe pra você.

Agosto de 2013