quarta-feira, 5 de junho de 2013

O AVENTAL DO MAÇOM



 1. Etimologia

Quando crianças, nós seres humanos, apresentamos semelhantes características em nossa parte cognitiva, todo homo sapiens, independentemente de sua base cultural, de sua classe social, ou mesmo etnia, apresentará as mesmas etapas em seu crescimento durante a chamada primeira infância, como propõem estudiosos como Piaget.

Entre essas fazes em comum, podemos afirmar que faz parte de nosso desenvolvimento intelectual, a curiosidade. Recordo-me de certas perguntas que, na pureza da inocência, fazia a meus pais, deixando-os algumas vezes encabulados, pois sua resposta seria de difícil entendimento para um pequeno infanto. Quem nunca passou por isso?

Pois agora, me colocando na pureza com a qual fiz a primeira viagem, cheio das curiosidades, próprias do grau que possuo me permitem perguntar, de onde veio a palavra “avental”?

A língua portuguesa, bem como, suas coirmãs francesa, italiana e espanhola tem base etimológica comum, ou seja, tem a mesma raiz cultural e fonética, o que explica a certa semelhança entre elas. Esses quatro idiomas, são derivados de um idioma culturalmente e socialmente morto, que é o latim.

O latim, idioma, vez ou outra, ressuscitado por intelectuais em suas obras, tem seu uso restrito a trabalhos acadêmicos, peças produzidas pelos operadores do direito, visto que juristas utilizam largamente termos em latim, além de mais um ou outro ramo das ciências naturais e humanas. Apesar de glamoroso, o latim é tão utilizado quanto o hebraico, o aramaico ou mesmo o javanês, que tem sua utilização magnificamente ironizada por Lima Barreto em seu conto, O homem que sabia javanês.

Embora pouco utilizado, a despeito do que possa se pensar, o latim traz a raiz de qualquer palavra portuguesa, inclusive a que enseja este trabalho, a palavra avental, senão vejamos.

A palavra avental vem do latim ABANTE, que ao pé da letra, significaria “avante”, no sentido de ficar à frente, logo, seria a peça do vestuário que usamos à frente do corpo.

Ora, nada mais poético e representativo, do que utilizar o maçom, que busca uma jornada sempre avante na procura pela verdade e pela liberdade, um símbolo que tem tal significado.

 2 - História

Assim como há um significado para toda palavra já pronunciada, há que se entender que anteriormente a sua pronúncia, houve uma motivação, essa motivação, por sua vez, teve um estopim inicial que ensejou assim todo um processo, logo, toda palavra tem uma história.

Para dar testemunho do que acabo de afirmar, utilizarei como exemplo meu próprio nome, Cláudio.

Vejam só, caso queiramos buscar o significado de meu nome, nos valeremos da literatura própria para este tipo de pesquisa, no meu caso busquei a internet no sítio eletrônico www.significado.origem.nome, ali encontrei que o nome Cláudio deriva do latim e, significa coxo, manco. Apesar da origem pouco nobre, continuei minha pesquisa quanto à história do nome e, pude verificar que vinha de um césar romano, claudius, que mancava, daí seu significado.

Até aqui ficou muito fácil, pois se tratou de meu nome e, eu já havia feito esta pesquisa antes, já sabia de toda esta história, difícil seria buscar a história de um substantivo simples, que é como se classifica gramaticalmente a palavra avental. Munido dessa dúvida, pensei, qual seria o relato mais antigo sobre vestuário? Logo me veio à mente o mais nobre dos livros, a bíblia sagrada, livro que permeia a fé de milhões de cristão pelo mundo a fora.

Eu, como cristão, católico, sei que no livro sagrado há respostas para as mais angustiosas dúvidas da humanidade, mas jamais imaginei que ali, em tão nobre escrito, poderia eu encontrar trecho da história de tão simples substantivo e igualmente simples vestimenta, mas para minha surpresa amados ir.’. o G.’.A.’.D.’.U.’. também tratou desse tema,vejamos.

Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. Gênesis 3:7.

Naturalmente os irmãos perceberam que o trecho acima, foi tirado do primeiro livro da bíblia, o livro de gênesis, que pertence ao velho testamento e ao chamado Pentateuco. Nele descreve-se a história dos primeiros seres humanos segundo o criacionismo.

Então caros obreiros, acabo de lhes provar, a primeira roupa a ser confeccionada pelo homem, foi sem dúvida, esta que veio a ser o traje maçônico, ou seja, o avental.

Percebam meus ir.’., todo relato histórico acerca de tal traje, passa a ser secundário, visto a nobreza do que constatamos acima, mas a título de informação continuarei a dividir convosco meus achados.

Permitam-me, explanar sobre outra menção bíblica ao avental, ela consta no livro de Atos, no capítulo 19, verso 12, acompanhem.

1sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos,
2Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo.
3Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João.
4Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo.
5E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.
6E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam.
7E estes eram, ao todo, uns doze homens.
8E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus.
9Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano.
10E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos.
11E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias.
12De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam.

Conforme descrito, o apóstolo Paulo, também fez uso desta peça de vestuário e, ninguém trabalhou mais para a obra do Cristo Jesus, do que ele. Percebam amados ir.’. que por serem os trabalhos do apóstolo Paulo, abençoados pelo próprio Deus, até suas vestimentas transbordavam a glória do altíssimo, pois eis que está escrito no verso doze do capítulo dezenove do livro de Atos, que seus lenços e aventais levavam a cura aos enfermos.

E assim chegamos a palavra crucial, que simboliza um elo, entre o uso do avental no mundo profano e entre colunas, a palavra é trabalho.

O trabalho é, sem sombra de dúvida, a principal função social do homem e, só usa avental quem trabalha, como podemos perceber no desempenho de diversos ofícios. O avental tem a função de evitar a sujeira nas roupas dos trabalhadores, com fazem os cozinheiros, os açogueiros e padeiros só para citar alguns. Há casos em que o avental é utilizado como protetor do corpo, evitando danos a este, como nos casos de radiologitas que tem seus aventais confeccionados em chumbo, para impedir o contato da radiação com seu corpo. Assim também os fazem os Maçons, que trabalham incessantemente pela realização dos fins da maçonaria e, usando o avental que, simbolicamente, os impedem de serem sujos, neste caso não por uma sujeira física, material ou concreta, mas pela sujeira dos vícios e das desvirtudes, quaisquer que sejam elas.

3-  O avental na maçonaria

Percebam amados ir.’., ao meu modesto modo de ver, cada uma das informaçães até aqui levantadas, é coberta do mais profundo valor, pois à sua maneira, a que não me enriquece filosoficamente , o faz culturalmente e vice-versa.

Contudo, ainda entendendo que cada conhecimento aqui adquirido é valoroso, faltaria com a verdade, caso não admitisse minha predileção por este tópico, pois nele trabalharei todos os tópicos acima, porém o farei sob a perspectiva da sublime ordem.

Quando fui comunicado de que meu nome havia sido apreciado pelos irmãos e, que estes haviam me congratulado com seu deferimento ao ingresso na maçonaria, fui ao mesmo tempo informado sobre algumas regras que deveriam ser atendidas até o momento magno da iniciação, uma dessas regras versava sobre meu vestuário, eu deveria providenciar terno, gravata, meias e sapatos pretos e uma camisa branca. Naquele momento pensei – profanamente-, “é este o traje maçônico”!

Eis que me são regaladas as luzes e vejo todos os presentes, munidos de acessórios, cada um de acordo com seu merecimento, mais todos apresentam um acessório em comum, o avental.

Passados os momentos de pesquisa, surpreendo-me com a informação de que, não é a tão vistosa roupa preta o traje maçônico, mas sim o dito acessório, ou seja, o avental.

Esta afirmação é corroborada pela simples observações dos irmãos em loja, percebam que nem todos vestem o famoso terno preto, há aqueles que o substituem pelo balandrau, outros podem optar pelo terno azul marinho, porém, nenhum dos irmãos em loja, podem nela permanecer sem seu respectivo avental, pois é ele, a rigor, o insubstituível traje maçônico.

Nos primórdios da sublime ordem, por serem os maçons verdadeiros pedreiros na maçonaria operativa, o avental era usado com os mesmos fins que se usa no mundo profano, ou seja, proteger aquele que o usa, da sujeira ou dos pedaços da pedra bruta enquanto desbastada. Tratava-se então, de um pedaço retangular de couro, cuja simbologia ficava ofuscada por sua simplicidade. Com o passar do tempo, os adornos foram surgindo na indumentária, com a simbologia respectiva a cada grau. Em tempos de maçonaria especulativa, se destingue os graus simbólicos e os filosóficos do obreiro, pelo simples observação de seu traje maçônico.

A forma do avental maçônico, a priori, foi padroniza pela Grande Loja da Inglaterra no século XVIII, com diferença entre si apenas nas cores e adornos referente a cada grau simbólico ou filosófico. Os aventais tem o mesmo tamanho, 35 cm de altura, 45 cm de largura e uma abeta de 15cm, preso ao corpo por um cordão ou fita preta.

4- O avental de aprendiz

Chego ao tópico final de minha primeira peça, trato aqui da simplicidade do avental no grau de aprendiz. Traje que aqueles que abrilhantam a coluna do norte, devem usar pelo período mínimo de um ano, enquanto desbastando a pedra bruta que há em si, preparam-se e aspiram à honra de sentarem-se junto à Coluna do Sul.

 O tema desta peça, me foi sugerido, quando percebendo minha curiosidade por diversos temas relacionados á maçonaria, meu ir.’. segundo vvig.’. me indagou em tom desafiador e, ao mesmo tempo motivador “você sabe por que sua abeta está levantada?” Passados alguns instantes, ele me dirigiu um pedaço de papel com a solicitação do trabalho que ora apresento.

Até aquele instante, obviamente, já havia percebido que o avental do aprendiz maçom se diferenciava dos demais, contudo nada me foi explicado sobre isso. Curioso, busquei na fonte de pesquisa mais próxima, o ritual de aprendiz maçom no rito moderno, que havia acabado de receber, nele pude ler algumas poucas informações, mas estas estavam, astutamente, relatadas de forma muito genérica.

Avançando em minhas pesquisas, busquei fontes diversas e, em cada uma delas pude extrair alguma informação, compilei-as e lhes apresento agora.

Tendo recebido a luz, o agora neófito, recebe a sua primeira insígnia, o traje que o vestirá maçonicamente de ora em diante, o avental.

Com as mesmas dimensões dos demais aventais, o avental do aprendiz se difere por ser todo branco e sem nenhum adorno, além de ostentar a abeta levantada.

Mas qual o significado da cor, forma e abeta levantada? Respondo. A cor branca representa a pureza, a inocência presente no aprendiz, que por ainda não ter trabalhado o suficiente na oficina, não conseguiu créditos suficientes para ostentar insígnias que denunciam seu crescimento, por isso usa o aprendiz, o avental na cor branca e sem adornos.

Quanto à sua forma, percebemos duas formas geométricas, o triângulo e o retângulo, estando o triângulo sobre o retângulo. Significaria, misticamente, a alma sobre o corpo, pois só após elevado espiritualmente e filosoficamente, atingindo o grau de companheiro, teria a alma dentro do corpo.

A abeta levantada, também remonta a maçonaria operativa, em que pese a pouca habilidade do obreiro aprendiz, este deveria manter a abeta levantada para resguarda uma área maior de seu corpo.  Simbolicamente, temos duas explicações para este símbolo, na primeira, reza que acreditavam os místicos, que a chamada boca do estômago era a área responsável pelas emoções, o que explicaria o frio na barriga quando surpreendidos com o inesperado. Assim, mantendo a abeta levantada, o aprendiz estaria protegido de emoções que o impediriam de se aprimorar.

A segunda relata que estando a beta levantada, ela protege o aprendiz de influências relacionadas às emoções provenientes do sexo, visto que cobre os chamados, xacras, responsáveis por estas emoções.

Percebe-se que as teses se complementam e pouco se distanciam em suas explicações, prova de que a maçonaria é universal, no que pese ser centenária e praticamente apócrifa, mantém certa unidade.

Eis que chegamos a fase final da peça, certamente o faço bem mais enriquecido culturalmente do que quando comecei, aprendi através desses estudos, que o avental do maçom não é somente um acessório do vestuário, alías como tudo na maçonaria, o avental é revestido de simbologia e fins filosóficos.

Este simbolismo maçônico, é um canal de comunicação com os ir.’., porém essa função específíca do ato de comunicar, só sera de fato realizada se o interlocutor tiver galgado os degraus de evolução nos graus simbólicos e filosóficos respectivos, ou seja, os símbolos maçônicos, neste caso o avental, efetuara a comunicação com aquele de grau correspondente ou inferior.

Tive o cuidado de não buscar dados específicos sobre aventais de graus superiores ao de aprendiz, pois acredito que caso o tivesse feito, perderia o encanto da descoberta nos momentos apropriados, ou seja, procurarei ismiussar  os detalhes sobre os simbols de companheiro e mestre, quando obter a honra de abrilhantar a Coluna do Sul, Câmara do Meio e o Oriente. Até lá, acredito que estejam de bom tamanho, os segredos que me foram revelados e me contento com a pureza da cor branca de meu avental.

Fico feliz em saber, que as áreas emocionalmente influenciáveis de meu corpo, estão protegidas pela abeta que ostento levantada e, quando baixá-la, significa que aprendi a me defender das más influências.

Isto exposto, amados irmãos, espero ter, humildemente, enriquecido de alguma forma nossos trabalhos no dia de hoje, é a peça. 

Irmão Claudio Lopes Negreiros
Porto Velho – RO – Brasil

05-06-2013